Durante nossa viagem pelo Reino Unido, em que visitamos um pouco da Inglaterra, Gales e Escócia, passamos dois dias e meio e duas noites explorando a fofa e tranquila região de Cotswolds, no interior da Inglaterra.
Ficamos apaixonados pelas pequeninas e aconchegantes cidadezinhas que tivemos a chance de visitar, seus charmosos chalés (os famosos cottages), suas estradinhas bucólicas adornadas por colinas intermináveis, ovelhinhas, fazendas de colza e muita história. Pareceu interessante? Continue lendo.
A região de Cotswolds é formada por vilarejos de mercado, local onde, na Idade Média, se comercializavam diversos produtos, em especial a lã. Toda cidadezinha da região tem um prédio histórico bem preservado onde era feito esse comércio de lãs, entre outros produtos. Para quem gosta de ler, recomendo muito a série de Kingsbridge, do autor galês Ken Follet. A série começa com o excelente livro de ficção histórica Os Pilares da Terra, e ilustra muito bem a importância histórica dessa atividade e a formação das cidades de mercado da época.
Se você está planejando uma viagem para curtir alguma, ou algumas cidades (e são muitas!) da região de Cotswolds, este post é para você.
A região parece ter saído de um conto de fadas. Tudo muito organizado, limpo, cuidado. Pessoas gentis, estradas perfeitas, até mesmo as estradinhas vicinais, aquelas que cabem somente um carro e são cheias de recuos. Se você não sabe do que eu estou falando, dê uma olhadinha neste post que Marcos fez sobre a experiência de dirigir no Reino Unido.
A região é popular entre artistas, figuras abastadas de todos os setores e, claro, a Família Real Britânica, que vivem ou têm propriedades na região.
Quando ir
O clima do Reino Unido é muito imprevisível e tende a ser mais cinzento e chuvoso em grande parte do ano, mas os meses de verão tendem a ser mais agradáveis e ensolarados, com dias mais longos e noites mais curtas. Por isso, recomendo esta época. A desvantagem é que são também os períodos mais badalados. Mesmo assim, e especialmente se esta for a sua única opção, vale a pena a visita. Nós passamos pela região em maio e foi perfeito.
Opte por visitar durante a semana, pois os ingleses adoram turistar pela região nos fins de semana e fica tudo bem cheio. Eu diria que cerca de 90% dos turistas da região são residentes locais. Cotswolds é ainda muito pouco explorada, por exemplo, por brasileiros.
Como chegar
Alugue um carro.
Se essa opção estiver totalmente fora de cogitação, você pode ter um gostinho da região visitando, por exemplo, Burford, a porta de entra de Cotswolds que fica a cerca de 120 km de Londres e a 33 km de Oxford. Para lá (e apara outras cidades) você encontra passeios de um dia com agência, saindo de Londres ou Oxford por exemplo, ou pode ir e voltar de ônibus comum ou trem.
Mas há outras opções para visitar além de Burford, como Stow-on-the-Wold, Burton-on-the-Water e outras várias que fazem parte do roteiro que recomendamos no fim deste artigo. Saindo de Oxford é possível visitar outras cidades da região de Cotswolds em passeios de bate-volta ou com pernoite por transporte público também. O site da Stagecoach pode ajudar no planejamento das viagens de ônibus. E este site aqui (em inglês) explica em detalhes como chegar a alguns desses locais.
Ou, em alguns casos, pode ser interessante explorar a vizinhança caminhando pelas inúmeras trilhas utilizadas pelo pessoal da região e pelos turistas mais dispostos. Para quem tem mais tempo, essa é uma ótima opção, pois algumas cidades são próximas e é possível conhecê-las a pé. Se for fazer isso, lembre-se de pesquisar bem e ir com um bom tênis ou bota.
Quanto tempo ficar
Para ter um gostinho do que a região tem a oferecer, sugiro que você reserve pelo menos 3 dias inteiros para ela. Mínimo mesmo. Esse foi o tempo aproximado que passamos por lá e, sinceramente, achei pouco. Fui embora querendo ficar, com aquela sensação de que a minha visita foi quase uma brisa que passou ventando, fugindo rápido de mim. Se tiver mais tempo, ótimo. Se não, já vale a pena um bate-volta de alguma das cidadezinhas da região.
O que ver
Bem, a região conta com diversos atrativos históricos e culturais. Aí vai uma pincelada para você ter uma ideia do que a região oferece.
Se estiver de carro, você vai poder conhecer diversas cidadezinhas e apreciá-las de acordo com a sua vontade. Há cafés, casas de chá, pequenos museus, castelos, fazendas de animais para divertir a criançada, arboretums e muitas pousadinhas charmosas e aconchegantes pelo caminho. Vale lembrar que a região não é das mais baratas, então vá preparado.
Os amantes da literatura e da dramaturgia talvez se interessem por Stratford-upon-Avon, cidade onde nasceu e está enterrado o poeta, dramaturgo e ator inglês William Shakespeare.
A badalada Bath, onde viveu a renomada escritora Jane Austen, é conhecidíssima por sua relevância histórica e suas termas, construídas pelo Império Romano.
Em Broadway encontra-se a fotogênica Torre de Broadway, construída em 1794 e que teve uma participação estratégica na Segunda Guerra Mundial. Mas antes de ir, consulte se a visitação está liberada, pois ela é muito usada para filmagens do cinema ou da TV local. No primeiro dia não conseguimos entrar porque estavam gravando um filme para a TV inglesa. Voltamos pela manhã e o responsável pelas filmagens foi bacana e nos deixou entrar “rapidinho” para umas fotos ligeiras. Não pudemos entrar no prédio (pena!), mas valeu assim mesmo.
A torre encontra-se em uma região muito bonita, com vista de toda a área, cheia de fazendas e ovelhinhas e há também amplo estacionamento, trilhas curtas para desfrutar do visual da cidade e um restaurante com banheiros.
Também em Broadway você pode visitar os vastos campos de lavanda da região nos meses de junho e julho, quando os campos estão floridos.
Para os fâs de Harry Potter, várias passagens da franquia de filmes do bruxo mirim foram filmadas na região, principalmente na cidade de Lacock. Já a casa dos Dursley, na fictícia Little Whinging fica, na verdade, em Surrey.
Como mencionei acima, a Família Real Britânica tem algumas propriedades na região, entre elas o Highgrove Estate, que pertence ao atual Rei Charles da Inglaterra. Os suntuosos jardins de Highgrove são abertos ao público para visitação paga.
Se passar por Bibury, eleito o vilarejo mais charmoso da Inglaterra, não deixe de visitar a fotogênica Arlington Road. Local de “foto de revista”. Logo em frente à rua há toaletes pagos. Leve moedas.
Pertinho de Bath está Salisbury, com sua belíssima e imponente Catedral de Salisbury, cuja imponência histórica foi muito bem aproveitada pelo autor galês Ken Follet no livro “Os Pilates da Terra“
E pertinho de Salisbury fica o cobiçado Stonehenge, declarado pela UNESCO Patrimônio Universal da Humanidade.
Se quiser descontrair e dar boas gargalhadas, planeje uma viagem para maio para assistir a famosa Corrida do Queijo. Evento anual realizado em Cooper’s Hill. Aí vai um vídeo muito bem explicado do evento feito pelo Via Infinda.
E eu não poderia esquecer, cemitérios! Pode parecer estranho, mas até os cemitérios por lá são fotogênicos e toda cidadezinha tem um no terreno da igreja da cidade.
Essas são algumas opções. Já deu para ver que não falta o que ver e fazer na região, não é?
Alimentação
Não vou sugerir restaurantes específicos porque eles mudam com o tempo, mas como as cidadezinhas são bem pequenas, as opções em algumas delas também são reduzidas e, em geral, bem carinhas também. Em Burford almoçamos muito bem por um preço bastante razoável. Já em Chipping Campdem o prato que pedimos foi caro e mal deu para enganar a fome. Para o almoço durante o deslocamento, o prato com melhor custo x benefício costuma ser o tradicional fish and chips (peixe empanado e batatas fritas).
Os hotéis normalmente disponibilizam gratuitamente no quarto uma chaleira elétrica, alguns saquinhos de chá, açúcar, biscoitinhos, chocolate quente, café em pó etc. Esses itens variam dependendo da hospedagem mas já quebram o galho, por exemplo, para um lanchinho rápido no fim da tarde ou um chá quentinho em noites frias antes de dormir.
Onde ficar
Hospedagem na região é o que não falta. Pequenos hotéis, pousadinhas, propriedades mais luxuosas ou até mesmo hotéis fazenda, há de tudo na região. Para quem vai com crianças, sugiro uma hospedagem em chácaras e fazendas que ficam um pouco mais afastada das cidades. Além da “vibe” do campo, a criançada vai se divertir interagindo com os animais da propriedade e aprendendo um pouquinho sobre a vida na fazenda.
Um bom local para quem quer um “pouso fixo” para explorar a região em pequenos bate-voltas é Burton-on-the-Water, mas há várias outras opções, claro. Tudo vai depender do seu roteiro. E a minha recomendação é que não deixe para reservar nada na última hora.
Roteiro
Saindo de Londres, para evitar o trânsito da grande cidade, minha sugestão é que você pegue um trem ou um ônibus até Oxford (a oferta de horários é bem ampla) conheça a cidade e alugue um carro para explorar a região de Cotswolds com calma. Para quem quer fazer um roteiro mais apressado e ver vários vilarejos, deixo abaixo o roteiro que percorremos. Mas se você for do tipo explorador detalhista, que gosta de curtir ao máximo cada cantinho, sugiro reduzir esse número pela metade ou aumentar o número de dias na região.
[[ DIA 1 ]]
Burford
Porta de entrada de Cotswolds, Burford é uma cidade bem movimentada e foi nossa primeira parada. Explore um pouco a cidade e aproveite para almoçar por lá, será um dos preços mais razoáveis que você vai encontrar em Cotswolds. Há estacionamento gratuito e banheiros públicos pagos. Não esqueça as moedinhas.
Burton-on-the-Water
Burton-on-the-Water é bastante movimentada, cheia de cafés, casas de chá, lojinhas de antiguidades, museus e outras atrações. Perca-se caminhando pela cidade com suas ruas românticas e estreitas. Se quiser passar mais tempo, há muitas opções para conhecer, como o Cotswold Birdland Park and Gardens (parque das aves), a Model House (miniaturas que replicam o centrinho da cidade) o Cotswold Motor Museum and Toy Collection (museu do carro e dos brinquedos) e até uma cervejaria, a Cotswold Brewing Company, entre outras atrações.
Lower-Slaughter/Upper Slaughter
Romântica e minúscula, a pitoresca Lower Slaugher é habitada há mais de mil anos. Se passar pela cidade não deixe de conhecer o antigo moinho e fotografar as pequenas pontes da cidade.
Upper Slaughter fica coladinha a Lower Slaughter.
Stow-on-the-Wold
É quase impossível passar incólume por esta porta localizada na Igreja de St Edward. Um charme. Parece um portal para a Terra Média de Tolkien. Juro que fiquei ali parada um tempo, sem coragem de sair, mesmo depois das inúmeras fotos que tirei dela e com ela. Acredite, experimentei falar “mellon”, mas ela não abriu, talvez tenha me faltado o cajado de Gandalf. :o)
Vale dizer que Cotswolds é uma região incrível para quem gosta de fotografar portas. Há para todos os gostos, de todos os tipos, tamanhos e cores, cada uma mais incrível e charmosa que a outra.
Broadway
Além da Torre de Broadway, que mencionei acima, a cidade é uma gracinha e há várias atrações em seu entorno. Pode servir como uma excelente base para explorar a região.
Faça seu pernoite em Broadway. Aqui há um pequeno comércio, mercadinho e restaurante.
[[ DIA 2 ]]
Stanton
Stanton é minúscula, quieta, pacata e muito charmosinha.
Em Stanton conhecemos um senhor muito simpático e já bem idoso que nasceu no Brasil. Ele reconheceu o idioma que falávamos e nos abordou para conversar. Chama-se Pedro João (embora o sotaque dele tenha impedido a gente de reconhecer os dois nomes logo de cara). Ele havia morado em Ipanema quando o pai trabalhava em uma multinacional no Rio de Janeiro, e recordava-se bem da infância na praia. Dessas coincidências da vida…
Há um clube/campo de críquete na cidade.
Chipping Campden
Chipping Campden é uma cidade maior, bem movimentada e com mais opções de hospedagem e alimentação, além de um povo muito solícito. Passeie pelas ruas charmosas da cidade, visite a Igreja de St James, tome um chá ou um café com bolo no centrinho e não esqueça de tirar umas fotos no antigo mercado da cidade.
Bibury
Há mais do que a Arlington Road em Bibury. Uma das atrações é a fazenda de trutas.
Tetbury
Não é uma cidade pequenina e, dependendo do roteiro, pode ser um bom ponto para dormir e dar prosseguimento ao passeio no dia seguinte. É nas cercanias de Tetbury que fica localizada Highgrove, propriedade do Rei Charles da Inglaterra.
[[ DIA 3 ]]
Castle Combe
A tranquila e pequenina Castle Combe já foi cenário de muitos filmes ao longo dos anos, entre eles Cavalo de Guerra, de 2011. A cidade parece ter “parado no tempo” (no bom sentido). É daqueles locais que a gente tem pena de deixar para trás. Imperdível.
Lacock
A principal atração de Lacock é a bela Abadia com sua arquitetura do início do Século XIII e cujo interior serviu de cenário para a escola de magia e bruxaria de Hogwarts nos filmes de Harry Potter. A cidade é uma graça.
Você pode terminar o dia em Bath, conhecer as termas, pernoitar por lá e, no dia seguinte, partir logo cedo para conhecer Stonehenge e, quem sabe, Salisbury.
Espero que este apanhado de informações oriente você no seu planejamento.
O Reino Unido não exige seguro viagem, mas é importante você fazer um, mesmo que seja o gratuito do cartão de crédito. Nós precisamos usar o seguro em Oxford e fomos muito bem atendidos. Caso queira pesquisar preços de seguros, veja aqui um agregador de seguros para você consultar.
Já esteve em Cotswolds? Fez outro roteiro? Acha que faltou algo neste post? Tem alguma informação ou sugestão a acrescentar? Deixe aqui nos comentários.
E até breve!
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